A primeira regra para ser bem-sucedido em qualquer coisa é definir o que é sucesso para você. Esse é um dos maiores desafios que músicos enfrentam hoje. Não existe um padrão para seguir.
Não é tipo escolher a faculdade e ir às aulas, em que há regras bem definidas. Você frequenta as aulas, passa nas provas, entrega os trabalhos e depois de completar todos os passos requisitados, você tem sucesso em pegar seu diploma.
Esse é um panorama ideal onde você pode mostrar que está tendo sucesso, e assim manter o superimportante apoio de seus amigos e da sua família. Infelizmente, o caminho para o sucesso na carreira musical não é tão preto no branco.
Vamos antes examinar algumas características que são presentes em quem tem sucesso:
1. Interesse Autêntico: Um constante estado de interesse, preocupação ou atenção com aquilo que faz.
2. Consistência: Mão de ferro em manter seu estilo, trajetória, forma etc.
3. Persistência: Firmeza em continuar numa trilha a despeito de todas as dificuldades ou opressões.
4. Metas: Os objetos de desejo de uma pessoa; um alvo ou resultado desejado.
Esses são os fatores básicos. As características que vão permitir um aluno a passar no vestibular, ir para a faculdade, passar nas provas e fazer trabalhos, cursar medicina, se quiser, completar a residência e sair no fim do processo como um doutor.
Mas não existe um currículo, uma lista de compras, uma estrada já pavimentada para se tornar um músico profissional. Mesmo conseguir um diploma da faculdade de Berklee, uma das melhores do mundo, não vai garantir que você se destaque. E por causa dessa falta de caminho delineado, você acaba descobrindo que as pessoas que deveriam te animar e apoiar (amigos e família) começam a celebrar mais seus fiascos do que suas vitórias. Eles querem o melhor para você, de verdade. E como uma carreira musical não é uma coisa certa, eles acham que é melhor te colocar num outro caminho, com regras mais estabelecidas e fáceis de serem cumpridas.
A verdade é que pode ser bem desanimador quando as pessoas que deveriam ser seus maiores fãs te pressionam a trilhar um caminho comum e batido, e tratam sua música como hobbie. E é muito fácil começar a acreditar que aquilo que eles pensam é o melhor para você. E eu sei como é devastador quando você diz para as pessoas que é músico e elas te perguntam, “mas qual é seu trabalho de verdade?”
Então como tornar a música uma opção legítima de carreira e convencer seus amigos e sua família (e, o mais importante de tudo, a você mesmo) de que você pode se dar bem, e está chegando lá?
Aqui vão algumas dicas para você praticar se quiser ir contra a maré e fazer da música seu ganha-pão:
Evite se auto-depreciar.
Lembre-se de que você é sempre seu pior crítico. Pode se espinafrar na frente do espelho. Grave suas próprias críticas, tome notas e as use para melhorar da próxima vez. Mas guarde para você mesmo. Quando estiver na frente de outras pessoas, a última coisa que você quer fazer é alimentar a crença deles de que você não vai dar certo como músico.
Isso também vale para os seus fãs. Pode ser que você não tenha tocado cada nota exatamente como havia planejado. Mas você é a única pessoa que sabe disso, ou que precisa saber disso. Talvez aquele acorde dissonante que tocou tenha sido a fagulha que pescou a atenção daquele cara que será seu superfã no futuro e fez ele reparar em você tocando, quando ele estava numa conversa bem interessante.
- Valorize o que você faz.
Porque, se você não fizer, ninguém mais fará. Quando estiver agendando shows, pense em termos de o que você precisa, e não de o que pode ganhar. Se você precisa ganhar R$ 50 mil por ano para se considerar um músico profissional, então definiu uma meta atrás da qual pode correr e provar para quem não acredita em você. Esse valor dá R$ 4.167 por mês, ou R$ 962 por semana. Uma vez que tiver estabelecido a meta, já deu o primeiro passo em direção de chegar lá.
Mantenha em perspectiva que nem toda sua renda virá de shows. Há pelo menos 101 maneiras de ganhar dinheiro fazendo música. Quando tiver se dado conta disso, suas metas financeiras não parecerão tão difíceis de alcançar. Também se lembre de que nem todo valor é dinheiro. Tem shows que pagam bem, e você deve ir atrás deles, é claro. E há shows que não pagam tanto, mas são grandes chances, como tocar na frente de uma legião de possíveis futuros fãs, fazer o show de abertura para seu herói ou ainda viajar para um lugar desconhecido.
- Não demonstre medo.
Meu professor de salto ornamental sempre me ensinou, “confiança é o segredo”. É assim que você faz o que parece impossível. Quando eu estava em cima de um trampolim a 10 metros de altura prestes a dar um mortal de costas com 3½, eu tremia por dentro e pensava, “isso é impossível!” Mas eu não demonstrava meu medo. O povo da arquibancada devia estar pensando que eles eram os únicos achando aquilo uma loucura. Eu me preparava para o mergulho agressivamente e o fazia com toda confiança que tinha. Nunca deixando transparecer, nem por um momento, que eu não estava seguro daquilo que estava fazendo. Depois que eu mudei o jeito de me posicionar quanto ao medo, passei a cair de cara na água com menos frequência. O medo sempre estará lá. Depois que você souber disso, você pode escolher não deixar ele te dominar.
- Seja confiante (mas de verdade)
No mundo dos negócios, dizem que você deve “se vestir para o trabalho que quer, não para o trabalho que tem”. E eu já vi isso funcionar. O cara que se destaca no trabalho por usar uma gravata diferente por dia é o cara que, invariavelmente, vai subir na vida mais rápido. E não é só por causa da gravata. É por causa do efeito psicológico periférico que vem com se vestir e agir como aquilo que você quer ser.
O mesmo acontece na música. Nós temos o melhor estilo. Quer ser um rock star? Então comece a agir como um. Não, eu não estou falando de beber mais do que um carro, cheirar formigas, engravidar tietes e jogar TVs pela janela do hotel chique. Eu digo para você montar seu equipamento com tempo o suficiente para fazer uma boa passagem de som sempre e colocar 100% da sua energia em cada show. E tocar seu set inteiro, não importa o que der errado, mesmo que seja só você e um cara na plateia. Mantenha seu personagem do momento que entrar pela porta até que o último refletor da balada pós-show seja apagado. O esquema aqui é acreditar.
- Receba críticas bem.
Nada ajuda tanto a crescer, e a crescer rápido, quanto críticas construtivas. É fácil se perder no universo que você cria com a sua música. Nesse universo você é um deus e um gênio, o criador de tudo o que existe. É claro que esse universo pode ser rapidamente destruído quando colide com o mundo real. Especialmente porque muitos músicos são, na verdade, caras muito tímidos que usam seu personagem de show para conseguir ter confiança o suficiente para interagir com outros terráqueos.
A melhor coisa que você pode fazer é transformar as coisas que te machucam em coisas que te ajudam. Lembre-se que as pessoas geralmente nem se importam o suficiente com você para tentar machucá-lo. Tudo o que eles disserem a você é resultado da experiência deles. E a experiência deles é, no fim das contas, o seu ganha-pão. O Pearl Jam fez um show uma vez com um set list eleito pelo público deles, e foi uma das melhores apresentações que ele já fizeram.
- Desenvolva seu talento.
Você deve se comprometer a passar cada santo dia praticando para se aprimorar no seu ofício. Eu sei que há muita coisa para fazer além de tocar: fazer networking, marcar shows, praticar seu marketing e twitar. Mas tudo isso será em vão se você não tiver criando músicas incríveis e melhorando na técnica. Não deixe nunca sua palheta parar. Um bom amigo meu me disse recentemente que ele não havia tocado suas próprias músicas no último ano. Ele estava de saco cheio de tocar sempre as mesmas canções e tirou uma folga. A única coisa que eu pude responder a ele foi: “Se até você está de saco cheio dessas canções, imagine como seus fãs devem estar se sentindo!” Esse cara é um dos melhores músicos que eu já conheci e as músicas das quais ele estava cansado eram espetaculares, mas ele tinha passado por um período de estagnação. E por mais que ele não tivesse escrito coisas novas, ele gastou o último ano fazendo novos covers, explorando novas ideias, e exercitando os músculos musicais que ele tinha atrofiado tocando a exata mesma set list toda hora.
Bem, esse post está ficando longo, então só quero compartilhar uns últimos pensamentos com vocês, para ajudar a atingir seus objetivos:
* Se você realmente acreditar que o que está fazendo é lindo, seu público também vai. Tocar é que nem contar piada. Depende de como você o faz. Você pode contar piada com confiança e projeção ou você pode usar as mesmas palavras de quando alguém te contou, mas ser tímido e inseguro. Pode apostar em qual dos dois casos as pessoas vão rir mais.
* Uma voz que não é “tradicionalmente” ótima pode te ajudar com personalidade e diferenciação, especialmente quando aliada a músicas bem escritas. Estou pensando em Bob Dylan, Neil Young, Tom Waits, Leonard Cohen e Jimi Hendrix, para citar só alguns.
*Quando você tocar algo “perfeitamente”, pare. Daí pare um minuto para refletir no que está sentindo. Seu cérebro não diferencia o que é real de o que é imaginário. Os mesmos caminhos neurológicos são usados para as duas coisas. Você vai descobrir que é mais fácil reproduzir um sentimento do que uma combinação de notas, ainda que o resultado seja o mesmo. Então ensaie o jeito que quiser se sentir, e ele vai transparecer durante os seus shows.
*Com qualquer coisa que você queira alcançar, tentativa e erro é a melhor forma de ganhar conhecimento. Thomas Edison disse: “Eu nunca falhei. Só descobri 10 mil jeitos que não funcionaram.”
*Outras carreiras já definiram caminhos de sucesso. O primeiro desafio com a escolha da música como cerreira é definir seus próprios termos de sucesso. E tomara que, depois de ler este post, você tenha uma ideia melhor de como fazer isso.
*E, finalmente, se destaque criando um elemento inesperado. Os caminhos batidos estão cheios de gente, como uma marginal. Seja o motorista mais ousado dessa marginal. Porque nem sempre tem uma estrada levando para onde você quer chegar.
Carlos Castillo é estrategista de marketing musical, recordista de gravações ao vivo, faz turnês internacionais e é o chefe da Schwilly Family. Ainda que ele more em Salt Lake City, Utah, ele passou a maior parte de 2012 viajando pelos EUA, gravando e compartilhando músicas de cerca de 250 bandas e músicos locais. Ele atualmente está construindo um site para músicos que querem gerenciar sua carreira ao sucesso. Seu site é SchwillyFamilyMusicians.Com, seu Twitter é @CaptainSchwilly, e seu e-mail é [email protected].
FONTE: Somos Música